terça-feira, 25 de maio de 2010

Pequena Clarice.

Eu gosto dos cafés, é o cenário perfeito para os filmes franceses.- pensava um pouco enquanto olhava para fora da vidraça do café, ou olhava seu reflexo. Ela tão esquecida nos lugares, gostava de andar como as européias. Já se sabia dessa influência terrível que ela tinha de fora. Sua mente mentecapta oscilava diversos pensamentos sobre o que estava lendo, sobre o que havia visto, sobre a mesa estava o café. O café que escorria pela caneca e enodoava o pratinho que protegia a mesa de seus desastres.Seu pé esquerdo deslisava a ponta sobre o piso emadeirado, enquanto seus ombros arfavam levemente onde eu tinha a leve impressão de seguirem o compasso da música do lugar. Seus lábios, que não me expressavam nada, se recontorciam parecendo estar anciosa para que a música acabasse, ou talvez estivesse no clímax do romance. O triste é que eu sabia que era tudo em vão, ele morria no final. Parecia uma boneca de porcelana. Ali, sentada, quieta, com os olhos fixos, e quase imóveis, naquele livro grande e velho. E tinha até receio de tocá-la com o medo de desmanchar sua tão fina e frágil pele. Ás vezes eu tinha impressão que sua pele refletia a luz do sol que se disperssava entre os prédios da cidade grande. Parecia estar em paz, parecia que seu espiríto flutuava de tão quieta que estava. As gotas de água, o presságio da chuva, destilavam na vidraça do café, deturpando a pele esbranquiçada de seus ombros nus. " Às vezes fico alienada com medo dessa comparação com o que eu escrevo. Não sou uma espécie de Clarice Lispector do futuro, ou um Caio Fernando, nem mesmo um Érico Veríssimo. O que escrevo desejo o reconhecimento por características minhas. Me dedico demais as palavras para serem dadas ao mérito de alguém já reconhecido pelo seu valor...". Enquanto gotejava mais lá fora, ela espalhava os guardanapos na mesa, como um surto, ajeitou o casaco, pegou a bolsa com céleridade e saiu ajeitando o guarda chuva. Fiquei até com medo de que ela derretesse naquela chuva impetuosa. Não me contive, sentei em seu lugar, numa tentativa estapafúrdia de tentar entender o que ela sentia em todo o momento que eu a fitei. Os guardanapos manchados pelos respingos do café, me pareciam mais um desabafo. Parecia hoje, estar frustrada pelo fato das pessoas se acharem auto suficientes ao ponto de larga-la, pelas pessoas se encherem com uma porcaria de conhecimento que só servirá para o seu próprio ego, enchendo o cérebro de informações que pouco lhes serviram para algo útil, e no final de tudo o caráter e o bom senso da maturidade, serem esquecidos, pelo fato delas se sentirem pessoas inteligentes, ela gostava usava palavras duras, com uma entonação mais forte, o que me fazia pensar que era mais sorridente em dias que seu pé direito encostava o chão gelado de seu apartamento. Ela estava realmente confusa. Mas só escrevia em todos os guardanapos que não queria ser uma Clarice, só queriam que soubessem com exatidão, que todas suas palavras, expressavam o que não podia tocar.

Um comentário:

  1. Perfeito. Me senti num Starbucks de Paris lendo esse texto. Você criou todo um clima, um ambiente! Parece filme francês! Parabéns, de verdade.

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