sábado, 26 de junho de 2010

Assim.

    Minha mãe esses dias estava lendo um livro que me chamou atenção eu não sei o por quê, acho que fosse por falar sobre amor, não histórias de amor em si, mas sobre o amor. Daquilo vi pequenas letras num papel amarelado virarem grandes prédios e grandes significados saltarem das páginas e dançarem sobre minha mente me fazendo ver a veracidade das coisas, tão simples. Estava ali, na minha frente.
     Eu podia não ter um caso de amor desses inigualáveis, podia não ter aquele galã charmoso da novela em meus braços, eu podia até não ter a beleza de Vênus, mas eu tinha ela. Assim pequena, frágil, magnífica, sensual, sempre sentada a ler algo, ou escutando suas músicas épicas. Ali quietinha, encolhida adormecida mais perfeita que um anjo. Eu não encontrava defeitos, apesar de ser um tanto quanto difícil, eu lidava como se fosse a mais compreensiva, a mais integra, a mais perfeita, era quase um anjo. Tão simétrica, eu sabia que eramos invejados por ser tão certo, tão alinhado, parecia um quebra cabeça finalmente montado, ou um vestido vermelho adequado a um encontro a dois, nem as metades das laranjas eram tão bem encaixadas como nós. Sentir seu corpo encostar no meu, cansado pelo dia, recostar, dormir. Assim mesmo, sentir-se segura e aconchegada em mim, pobre de mim, tão pequeno também não merecia tanto amor. Às vezes me sentia tão inútil, por não saber agradecer pelo seu amor, era quase sem palavras ser amado por alguém assim.
    Nesse livro que fitei por várias vezes, resolvi folhear algumas páginas. "O amor não se trata de um sentimento, mas sim de uma decisão." É vero, muitas coisas que cheguei a passar ao lado dela, foram decisões, eu decidi amá-la. E às vezes me vinha pensamentos a passar como um filme um tanto antiquado, vezes, vezes que iamos observar as pessoas passearem, vezes que iamos fazer passeios, assim clichês. Eu lembrava seu rosto me olhar com um sorriso que parecia mais uma pintura, totalmente adequada, de uma burguesa, seus olhos brilhando. Eu daria muitas coisas pra saber o que se passava em sua mente naquele momento. Até quando sofria, quando sofria de amor, de tristeza, de problemas, de mim. Até quando sofria, eu a amava. E eu também sofria por não saber o que fazer.
     Quando brincávamos de Pierrot, meu lindo Pierrot, me sentia uma Colombina às avessas. Não era algo carnal, eu não queria tocá-la, não queria beijá-la, queria ela pra mim. Assim pertinho. Como um só. Advinhando os pensamentos um do outro, continuando a observá-la dormir, ver suas sardinhas parencendo que cada pintinha foi colocada no lugar certinho, com muitíssima exatidão. Me inspirava a tudo, a escrever, a cantar, a rir, a conversar. Parecia que eu tinha um porto seguro, alguém que me segurasse caso caísse. Ela não substituia, nem se colocava no lugar de ninguém, era ela, tinha um lugar dela em mim.
      Eu não queria que nada disso tivesse acontecido, que nada tivesse esfriado, que ninguém tivesse estragado, que ninguém tivesse invejado, que ela não tivesse parado de me amar. Porque eu sei. E sei porque tenho certeza do que sinto, eu sei, que ninguém nesse mundo, absolutamente ninguém, irá amá-la como meu coração a amou. Nem todos os Pierrots do mundo irão repôr o espaço dela que ela deixou. Porque a Colombina às avessas ainda espera ela, sem dor, sem magoa, só ela com sua malinha de roupas e sua caixa de discos. Eu ainda espero pelo meu Pierrot tão branco, assim espero ouvindo as mais lindas canções de amor do mundo tentando imaginar como seria cantar pra ela, novamente, ver seu sorriso me fitar com seus grandes olhos e ainda querer dar muitas coisas pra tentar advinhar o que uma pequena pessoa pode ter dentro de uma mente tão extensa e encantadora.

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